Róisín on canvas
sábado, 22 de outubro de 2011
Se queremos música, carregamos no play. Se queremos arte contemporânea, vamos a uma exposição. Mas em 2005 deu-se um interessante - e raro - casamento entre duas linguagens tão distintas como a música electrónica e a pintura, nas capas dos três EPs que assinalaram a estreia de Róisín Murphy a solo.
A ex-Moloko pôs de lado ferramentas como a fotografia ou o design gráfico, tão comuns nestas lides sonoras, e pegou numa das disciplinas visuais mais antigas de sempre, a Pintura a Óleo, para ilustrar a modernidade da nova música que então fazia.
Dizem os relatos que Róisín conheceu o artista plástico Simon Henwood num pub. Henwood, então conhecido pela série de retratos a teenagers Kids Portraits, achou que a ex-vocalista dos Moloko seria um objecto interessante para uma pintura. Na semana seguinte, Henwood deslocou-se à casa de Róisín e, enquanto percorriam o seu guarda-roupa, decidiu vesti-la de lantejoulas. Murphy colocou-se em poses abstractas e acabou por desenvolver uma personagem que o pintor descreveria como "uma diva disco electro pop com um look anos 40".
As obras hiper-realistas que dali resultaram deram origem a uma exposição no The Hospital Club, em Londres, e foram escolhidas para a capa das três edições limitadas (apenas em vinil) do EP intitulado, justamente, Sequins.
Um casamento que se revelou feliz, não só pela qualidade das obras - que viriam a ilustrar também o primeiro album a solo de Róisín, Ruby Blue - como na vida dos dois artistas: actualmente, Róisín Murphy e Simon Henwood estão numa relação e são pais de uma menina de 2 anos.
Mesa de Mistura | Emissão 19
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Luomo - Visitor
Dani Siciliano - Slappers
Róisín Murphy - Ruby Blue
Kelley Polar - Ashamed of Myself
NuFrequency ft. Shara Nelson – Go That Deep (Charles Webster Remix)
7 Samurai - The African
Morgan Geist - Detroit
Junior Boys - Bits and Pieces
Giorgio Moroder - First Hand Experience in Second Hand Love
Tosca - Heidi Bruehl (Plant Life's Love Philosophy Remix)
Spacek - Inside
Tricky - Overcome
Luomo - Tessio Read more...
O primeiro disco de Rock Psicadélico em Portugal
domingo, 2 de outubro de 2011
«Depois da pobreza da caótica fase primária em que predominavam as "violas eléctricas", está neste momento a verificar-se uma evolução positiva, com instrumental mais variado (órgão, saxofone, etc) e maior apuramento técnico (melódico, harmónico e rítmico). (...) Essa evolução também se está a verificar entre nós.»
Escrevia assim Luiz Villas-Boas, fundador do Hot Clube de Portugal, na contracapa de Let Me Live My Life, primeiro e único disco dos Jets.
Porquê falar deste EP, editado em 1967 por uma banda de Lisboa que, no ano seguinte, viria a desaparecer? A resposta é simples: este é considerado o primeiro disco de rock psicadélico feito em Portugal.
As palavras de Luiz Villas-Boas iam, portanto, para além da contextualização; anunciavam a viragem que os Jets - «4 jovens universitários e 1 músico» - provocaram na música rock, feita em terras lusas.
Uma das grandes inovações foi o uso do órgão, responsável por uma sonoridade fuzz que não se ouvia em Portugal e que em muito se aproximava de um novo estilo que, três anos antes, emergiu nos EUA e na Grã-Bretanha.
Outra grande marca deixada por Let Me Live My Life está na capa: assinada por Carlos Fernandes, foi a primeira no repertório do pop-rock português a apresentar um grafismo próprio da estética psicadélica.
Os primeiros sinais do psicadelismo em Portugal iam para além do disco per si: os Jets tocavam «a 15 mil escudos por actuação, ao câmbio da época, fora a dormida, alimentação e casa, durante as loucas - porque sexuais - digressões estivais, meridionais, coloridas e extravagantes, com inglesas em desaforos sensoriais», recorda o baterista e líder dos Jets, João Alves da Costa. A banda tinha, até, duas «mentoras sexuais», Liz e Frankie, «introdutoras de afrodisíacos spanish fly, na vivência criativa musical e erótica».
Os Jets eram formados por Ricardo Levy (guitarra ritmo), Júlio Gomes (guitarra solo), Mário Augusto (baixo), João Vidal de Abreu (órgão) e João Alves da Costa (bateria). Criada em 1964, a banda iniciou o seu percurso no movimento Yé Yé, tendo participado no Grande Concurso Yé Yé, que nos anos 60 levou muitas bandas ao Teatro Monumental.
Três anos depois da sua formação, gravaram o seu primeiro EP, fazendo adivinhar um novo rumo na música que faziam. Uma história que ficaria por contar: no ano seguinte, a banda acabou por desfazer-se, devido ao serviço militar. A marca, contudo, ficou.
Fontes:
Nova Vaga, O Rock em Portugal (1955-1974), Edgar Raposo e Luís Futre, ed. Museu Municipal do Montijo, 2008.
Recordando... Os Jets, Aristides Duarte, Jornal Nova Guarda, 2009.
Let Me Live My Life pode ser ouvido na emissão 18 do Mesa de Mistura.