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O (Meu) Melhor de 2011: 1º Lugar

sábado, 31 de dezembro de 2011


Let England Shake, PJ Harvey

Descalçou os stilettos, despiu o vestido curto, limpou o baton. Desfez-se da imagem de mulher-rock, crua e sexual, acutilante e ameaçadora.

Em 2011, o espanto tomou conta de nós: PJ Harvey emergia, transfigurada em pássaro negro, sobrevoando a Inglaterra e o passado dos homens, observando a morte e a destruição. O apocalipse não será anunciado: está escrito na nossa História, acompanha-nos desde sempre. Será esta a grande mensagem de Let England Shake, para muitos (eu incluído) considerado a grande obra-prima de PJ Harvey e o melhor álbum de 2011.

Assim como Marvin Gaye se transcendeu em What's Going On, PJ Harvey fê-lo neste empreendimento: uma meditação sobre a história e a guerra, o patriotismo e a desilusão. Sobre a humanidade. Encheu-se de coragem e enfrentou uma matéria densa, tão densa como o sangue derramado em All and Everyone ou os corpos desmembrados em The Words That Maketh Murder. Mas dela fez poesia, tão bela como nunca antes tinha feito. Dela fez música, a mais inspiradora e madura que alguma vez produziu. E renovou, em cada um de nós, a fé na criatividade humana.

Costumo pensar que já não se fazem álbuns que ultrapassam o seu tempo e ficam guardados na memória colectiva. Quero acreditar que Let England Shake é uma magnífica excepção.

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O (Meu) Melhor de 2011: 2º Lugar


James Blake, James Blake

São os sinais dos tempos: se há cinco décadas atrás, revoluções no mundo da música aconteciam ao ritmo de um punhado de anos, hoje acontecem ao minuto. A proeza, portanto, não estará na manobra revolucionária em si, mas na sua capacidade de deter - nem que por breves instantes - um mundo com déficit de atenção.

Foi isso que James Blake conseguiu fazer em 2011. Não que o seu álbum de estreia homónimo seja pioneiro de um novo estilo de criar canções, por mais que possa parecê-lo. Verdade seja dita, James Blake caminha num trilho desbravado há já uma década, na cena UK Garage do sul de Londres. Por essa altura, na linhagem do house, do drum'n'bass e do dub, nascia uma nova entidade sonora, mais texturada, melancólica e soturna: o dubstep.

O que fez de James Blake, então, um dos álbuns mais aclamados deste ano, a ponto de ser considerado "o som de 2011"?

No meu entender, terá sido a transmutação alquímica que este jovem, com então 22 anos, conseguiu operar, no refúgio da sua casa («All tracks written, performed, produced and recorded at Home»). Pois a partir dos espaços soturnos do dubstep, Blake conseguiu aceder ao espaço mais humano de todos: o da alma. Com as suas mãos, desconstruiu estruturas rítmicas, isolou elementos, separou átomos, chegou ao núcleo do amor, da solidão, do desencanto e da auto-punição. Regressou à superfície e ligou os pedaços com batidas orgânicas, ecos, loops, vocoders, um piano, a emoção antiga da soul, uma voz crua e verdadeira. Deu-lhe sangue e uma respiração irregular, tão irregular quanto as nossas emoções.

Com este álbum - ou antes, com esta manobra revolucionária - fizemos a nossa própria catarse. Blake, ao mesmo tempo, conseguiu vencer o déficit de atenção do mundo, agarrar-lhe na cabeça, olhá-lo nos olhos e dizer-lhe "Pára. Escuta. E sente". Nem que por breves instantes.

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O (Meu) Melhor de 2011: 3º Lugar


Arabian Horse, GusGus

Estou-me nas tintas se foi ignorado nas listas dos "Melhores de 2011". Talvez porque a música de dança continue a ser assunto para minorias especializadas, à margem de uma maioria (demasiado) entregue ao feitiço do "indie" e do "alternativo".

Pois com as guitarras e os revivalismos que protagonizaram o capítulo 11 do novo milénio, houve casos muito especiais a acontecer em paralelo. Um deles foi o regresso dos GusGus, conterrâneos de Björk e veteranos na cena house/electrónica.

Respeitados como "parceiros no crime" que originou a explosão do trip hop, nos meados de 90 (assinaram o emblemático Polydistortion, em 1997), os GusGus foram direccionando o seu leme, nos anos que se seguiram, para uma techno mais aguçada, dir-se-ia mesmo difícil - quantos antigos fãs não terão pensado "pronto, perderam-se...".

Pareciam estar votados ao esquecimento, quando em Maio de 2011 aconteceu o inesperado. Com um título sedutor e uma capa de execução invejável, o oitavo álbum de estúdio do colectivo parecia anunciar que, desta vez, o caso era sério. Gravado numa cottage perdida na beleza silenciosa das paisagens islandesas, Arabian Horse assinala um verdadeiro salto quântico na carreira dos GusGus: embora seguindo a linha tech-house dos últimos trabalhos, atinge um grau de maturidade e coerência sem precedentes, no seu percurso de 15 anos.

Aqui, o pulsar da dança e as atmosferas electrónicas convivem com uma qualidade lírica surpreendente, ampliada pelas performances carismáticas de Urður Hákonardóttir, Högni Elisson e David Thor Jonsson, em texturas vocais que invocam as frequências da soul e da pop.

São partes que, somadas entre si, revelam alguns dos momentos mais arrebatadores e épicos que o (agora) quinteto islandês já conseguiu. Pelo galope do caválo árabe, somos levados numa travessia pelo deserto (quem sabe, o tal limbo em que os GusGus se encontravam) e atingidos por uma tempestade de intensa criatividade e sofisticação.

Uma das mais marcantes de 2011. Sem guitarras nem revivalismos.

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Mesa de Mistura | Emissão 23

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Cai a noite, ergue-se o Solstício.
Ergue-se a Música.




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Videoclip: When I Grow Up

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Em 2009, Karin Dreijer Andersson fazia uma pausa no trajecto dos The Knife e lançava-se num projecto a solo, sob o pseudónimo Fever Ray.

O álbum de estreia homónimo abria as portas para um mundo oculto, feito de electrónicas sombrias, vozes distorcidas e imagens inquietantes. O videoclip que acompanha o segundo single é uma hábil extensão desse universo.

Em When I Grow Up, observamos o passo lento e arrepiante de uma rapariga-zombie, sobre as águas estagnadas de uma piscina. A narrativa culmina num momento sobrenatural e hipnótico, tão fascinante como poucos têm sido neste domínio, em tempos recentes.

Realizado por Martin de Thurah, conhecido também por filmar a música de James Blake, When I Grow Up foi considerado o terceiro dos 20 melhores videos de 2009, segundo a revista Spin.

Quanto a mim... dêem-me música (e respectivas imagens) com criaturas estranhas, que eu bato palmas de contente.

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50 Words For Snow (Kate Bush, 2011)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011


É sempre um acto solene, o de escutar um novo álbum de uma figura tão mítica. Não só por estarmos diante da Grande Sacerdotisa do art rock e uma das intérpretes britânicas mais marcantes dos últimos 30 anos, definidora de uma nova experiência sonora no feminino - abrindo caminho para a linhagem prosseguida por Tori Amos, Bat For Lashes ou Joanna Newsom. Mas também porque Kate Bush, afastada da órbita musical desde os anos 90, só voltou a manifestar a sua arte ao fim de 12 anos (com Aerial, em 2005), regressando ao silêncio desde então.

Eis que o espírito distante ressurge novamente, com a névoa de Novembro, para nos contar sete histórias de Inverno, no novíssimo 50 Words For Snow.

Tudo começa com um floco de neve a cair. É o seu próprio filho que, no primeiro conto, personifica a leveza, a lenta aproximação ao mundo cá em baixo. "The world is so loud / keep falling / I'll find you", responde Kate, uma mão maternal estendida no ar, a outra perpetuando uma sequência minimal e hipnotizante de piano.

Em Lake Tahoe, a voz revela-se, sólida e madura (tão longe do registo que a notabilizou em Wuthering Heights), para dar corpo ao fantasma da mulher que habita o lago onde morreu afogada, à procura do seu cão. Um reencontro com a Kate Bush primordial, bela e fantasmagórica, prolongado em Misty, o conto seguinte. Não sabemos se o seu encontro amoroso/sobrenatural com um boneco de neve é sonho ou realidade, mas sentimos a paixão, a ardência, o abandono, a angústia. Piano, baixo, voz e violinos entretecem-se numa viagem envolvente de 13 minutos, pondo a descoberto a sensualidade que sempre permeou a expressão da intérprete.

Wild Man é magnífico e cinemático: uma travessia no gelo do Tibete, um grupo de exploradores, o apelo da narradora à abominável criatura perseguida ("Run away, run away"), por quem sente compaixão ("You sound lonely").

Na história seguinte, Elton John junta-se para um dueto, cantando um amor que desafia os limites do tempo, num anseio de imortalidade. Duas interpretações sinceras que precedem o exercício experimental da faixa-título, onde as 50 formas de designar a neve se desdobram sobre a cadência ácida do baixo, da bateria e da guitarra.

Por fim, a graciosidade: em Among Angels, a voz e o piano de Kate são sublimados por arranjos orquestrais. Um sinal de conforto ("I might know what you mean when you say you fall apart") e uma promessa ("I can see angels standing around you") aquecem o coração, no final desta travessia.

50 Words For Snow é um álbum atmosférico, contemplativo, cuja beleza se deixa descobrir a cada audição. Gélido, mas com a mesma dimensão emocional de sempre. A neve vai derretendo, até que o espírito distante se retira, por fim.

Confortados com a visita, esperamos pela próxima aparição de Kate Bush, com a mesma solenidade e reverência.

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Mesa de Mistura | Emissão 22

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011


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Videoclip: I've Got You Under My Skin

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Passaram duas décadas desde que Jean-Baptiste Mondino realizou o brilhante vídeo para a não menos brilhante reinvenção do clássico de Cole Porter, I've Got You Under My Skin, interpretado por Neneh Cherry.

No Dia Mundial de Luta Contra a Sida, recordo aqui um dos manifestos artísticos mais poderosos desta causa. O som, a palavra e a imagem falam por si.


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