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Álbum | "The Dreaming", Kate Bush

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

The Dreaming
Kate Bush
Setembro 1982
EMI
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Se houve alguém que operou no mundo da indústria musical sem nunca dele ter feito parte, esse alguém é Kate Bush. The Dreaming, de 1982, é o melhor exemplo disso.

Três anos depois de ter atingido o estatuto de primeira mulher britânica a conseguir um nº 1 no seu país, com o imortal Wuthering Heights (em 1978, tinha apenas 19 anos), Kate Bush inaugurava a década de 80 com três álbuns de sucesso no curriculum e o Reino Unido a seus pés.

A sua força criativa parecia imparável: em 1981 entrava novamente em estúdio, para conceber o que viria a ser o quarto álbum de originais. Contudo, ao invés de seguir uma eventual fórmula de sucesso, Kate Bush seguiu o seu próprio impulso artístico e fez o impensável: desviou-se da rota mainstream e abraçou o experimentalismo.




Uma decisão em muito influenciada pelo aparecimento de um instrumento que viria a revolucionar o mundo da música: o Fairlight CMI. Concebido em 1979, este sintetizador marcou o início de uma nova era na produção musical, ao trazer para estúdio uma tecnologia nunca antes experimentada: o sampling.


Assim que [o Fairlight] me foi apresentado, percebi que era algo que eu procurava há muito tempo. A possibilidade de extrair um sample de qualquer som à nossa escolha e criar música a partir daí... era algo com que muitos artistas sonhavam, na realidade. Decidi, de imediato, utilizá-lo no álbum. (Kate Bush, 1985)





Sabe-se que Kate Bush foi uma das primeiras pessoas a adquirir o Fairlight CMI, assim como Peter Gabriel, Herbie Hancock, Nick Rhodes e Stevie Wonder (para nomear os mais conhecidos). Os mesmos registos declaram The Dreaming como o primeiro álbum de lançamento comercial a incorporar esta nova tecnologia.


"Sem limites" é, efectivamente, o mote para o som que se pode ouvir neste trabalho. Aqui, somos levados a uma nova dimensão do universo de Kate Bush, mais obscura e visceral.


Fica para trás o registo ópera-rock dos álbuns anteriores, os lugares oníricos até então visitados, a voz doce e inebriante, a canção de formato clássico. Em The Dreaming, a autora quebra as suas próprias barreiras e mergulha num mundo sinistro, por vezes bizarro e caótico, muitas vezes perturbador e disruptivo, outras vezes surpreendentemente belo.




O som é luxuriante, profundamente intrigante e exímio na forma de ilustrar os novos lugares aqui explorados. Tal como a voz: mais gutural e agressiva, como que num êxtase xamânico. Mais dramática e teatral que nunca.


The Dreaming saiu para a rua em 1982, rodeado de grande expectativa. Mas mostrou-se demasiado ousado para ser entendido. A crítica e o público dividiram-se, uns deixando-se cativar, outros achando que era demasiado. Kate Bush gone mad, dizia-se na altura. E o álbum ficaria para a posteridade como o mais mal-amado da sua carreira.




Foi o primeiro trabalho em que a autora, então com 23 anos de idade, assumiu total controle na produção. E talvez por isso mesmo, foi um salto sem rede. Para mim, The Dreaming é um acto de coragem, um manifesto de total liberdade criativa e artística... e um dos melhores álbuns de Kate Bush.


Vale a pena ver e ouvir. Até lá, senhoras e senhores... The Dreaming.





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