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Manifesto contra o esquecimento

sexta-feira, 1 de abril de 2011

É deprimente. Pertenço a um país onde as grandes editoras de música parecem preocupar-se mais com os números que facturam, do que com a celebração da música propriamente dita. Posto isto, é injusto que o acesso a uma parte tão importante do patrímónio musical do meu país dependa, por questões legais, da vontade destas empresas, que infelizmente detêm os direitos sobre criações de valor ímpar.

Falo do nascimento do pop-rock português. Falo de bandas e intérpretes como Lena D'Água, Quarteto 1111, Banda do Casaco, Manuela Moura Guedes, Tantra, Né Ladeiras, Corpo Diplomático e tantos, tantos outros que, nas décadas de 70 e 80, levaram as águas estagnadas da música portuguesa até rios de correntes vibrantes e inovadoras. Cresci com muitos deles, a eles devo a paixão que hoje sinto pela música.

E não são as compilações ao estilo O Melhor dos Anos 80, sempre com os mesmos temas que já ninguém aguenta, que podem colmatar esta lacuna. Já ouvi o Amor dos Heróis do Mar vezes suficientes. Agora quero ouvir o Macau, álbum lançado em 1986 e que está simplesmente desaparecido. Não aprecio a música do José Cid, mas tenho curiosidade em conhecer o som do Quarteto 1111. Conheço e adoro o Foram Cardos, Foram Prosas da Manuela Moura Guedes, mas agora quero explorar Alibi, o único álbum que ela gravou, em parceria com os GNR.

Este último chegou a fazer parte de uma iniciativa louvável, levada a cabo pelos jornalistas Jorge Mourinha e Miguel Francisco Cadete: a colecção Do Tempo do Vinil, projecto de recuperação do espólio pop-rock da Valentim de Carvalho, das últimas 4 décadas. Corria o ano de 2008. Dez anos antes, a então Polygram Portuguesa anunciava um projecto semelhante de reedições em CD. Por duas vezes, parecíamos ver a luz ao fundo do túnel.

Hoje, tentem procurar qualquer um dos CDs da colecção Do Tempo do Vinil. «Indisponível», dizem as bases de dados. Questões de distribuição, antes era a Som Livre, depois a iPlay, agora não se sabe de nada. A Polygram Portuguesa, por seu turno, foi engolida pela Universal. Pois...

Os discos voltaram à escuridão do arquivo-morto e nós, numa ida à secção de Música Portuguesa da Fnac, só conseguimos encontrar fado, música pimba, bandas sonoras de telenovelas e as novidades que se fazem por aí. Escusado será dizer, nada tenho contra isto. Quanto aos clássicos, só mesmo um punhado.

Não quero recorrer a formas ditas "ilícitas" de acesso a música, tão pouco rezar para que apareça qualquer coisa numa loja de discos em 2ª mão. Quero ter a facilidade de me dirigir a qualquer loja e encontrar coisas produzidas no Portugal de 76 ou de 82. É um direito que me assiste. Tão simples quanto isto.

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