A recente escolha de Dar e Receber como "Álbum de Família" da Radar despertou-me a vontade de revisitar um dos meus intérpretes de eleição: António Variações.
E para uma boa travessia no universo desta figura lendária, nada melhor que escutar
A História de António Variações. Editado em 2006, este CD dulpo sai da linha dos já cansativos best of, para se colocar num outro departamento: o dos objectos-relíquia.
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Sim, estão lá as edições de estúdio de Anjo da Guarda e Dar e Receber, os dois únicos longa-duração que Variações conseguiu concretizar. Mas a estas junta-se algo que nunca se esperava vir a conhecer: o som das maquetes que António gravou em casa, com temas que nunca chegaram a ser editados. Um total de 42 cassetes de áudio, guardadas numa caixa de sapatos. A sua família conservou-as intactas; Nuno Galopim escutou-as, pela primeira vez, em 2004; daqui floresceram dois projectos de valor ímpar: A História de António Variações e Humanos.
Vinte anos depois do seu desaparecimento, como que por magia, recebíamos a visita de um novo António Variações, canalizado nas vozes de Camané, Manuela Azevedo e David Fonseca - o projecto Humanos. Surpreso e tão saudoso, o público português recebeu Variações de braços abertos - nunca dele se esqueceu. O álbum Humanos foi disco de platina, sagrou-se um dos mais vendidos de 2004 (mais de 40 mil unidades) e converteu-se num verdadeiro fenómeno de popularidade - Maria Albertina foi, talvez, a canção mais trauteada pelos portugueses, nesses tempos.
Mas quis ir mais atrás, na busca do legado de António. Muitos anos antes, outro nome de referência da cena musical portuguesa prestou aquela que terá sido a primeira grande homenagem ao cantor: Lena D'Água. Foram amigos, na alvorada dos 80. E em 1989, cinco anos depois de perder o seu amigo, Lena D'Agua gravou Tu Aqui, álbum que nos apresentou cinco temas da autoria de Variações, nunca antes ouvidas - quem não se lembra do magnífico Já Não Sou Quem Era, editado em single?
Comprei o vinil de Tu Aqui esta semana. E ao ouvir, pela primeira vez, as quatro restantes canções, senti um arrepio. A voz de Lena D'Água invoca a mesma saudade que sentimos de Variações. Mas aqui, é a saudade de um grande amigo que transparece neste registo, hoje em dia meio esquecido, mas também ele um objecto de grande valor.
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