O (Meu) Melhor de 2011: 1º Lugar
sábado, 31 de dezembro de 2011
Descalçou os stilettos, despiu o vestido curto, limpou o baton. Desfez-se da imagem de mulher-rock, crua e sexual, acutilante e ameaçadora.
Em 2011, o espanto tomou conta de nós: PJ Harvey emergia, transfigurada em pássaro negro, sobrevoando a Inglaterra e o passado dos homens, observando a morte e a destruição. O apocalipse não será anunciado: está escrito na nossa História, acompanha-nos desde sempre. Será esta a grande mensagem de Let England Shake, para muitos (eu incluído) considerado a grande obra-prima de PJ Harvey e o melhor álbum de 2011.
Assim como Marvin Gaye se transcendeu em What's Going On, PJ Harvey fê-lo neste empreendimento: uma meditação sobre a história e a guerra, o patriotismo e a desilusão. Sobre a humanidade. Encheu-se de coragem e enfrentou uma matéria densa, tão densa como o sangue derramado em All and Everyone ou os corpos desmembrados em The Words That Maketh Murder. Mas dela fez poesia, tão bela como nunca antes tinha feito. Dela fez música, a mais inspiradora e madura que alguma vez produziu. E renovou, em cada um de nós, a fé na criatividade humana.
Costumo pensar que já não se fazem álbuns que ultrapassam o seu tempo e ficam guardados na memória colectiva. Quero acreditar que Let England Shake é uma magnífica excepção.
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